terça-feira, 21 de abril de 2020

Biologia Titã: Mothra

Godzilla: King of the Monsters | Imagem dá prévia de Mothra no ...

Mothra ou Mosura (original) é sem dúvida um dos monstros gigantes mais conhecidos da franquia Godzilla. Com o título de Rainha dos Monstros, Mothra é muito popular entre os fãs de kaijus ficando em segundo lugar depois de Godzilla.


O maior lepidóptero do mundo estreou pela primeira vez  em 1961, em seu próprio filme solo: Mothra, a Deusa Selvagem e desde então fez diversas aparições nos filmes da Toho, batalhando contra o Rei dos Monstros nos clássicos Mothra vs Godzilla (1964) e Godzilla vs Mothra(1992) e ganhou seu espaço em um filme americano, Godzilla II: Rei dos Monstros, de 2019, sempre desempenhando um papel divino, contato com a humanidade e de proteção ao planeta, com direito a uma cultura própria, mitologia e até porta-vozes (não se esqueça das duas fadinhas Shobijin hein!)

Vejamos alguns aspectos sobre sua biologia a seguir:



*OBS: Os detalhes biológicos a seguir foram baseados em diversas versões de Mothra, com ênfase na versão da era Heisei (1992).




APARÊNCIA: 


Mothra embora conhecida por ser uma mariposa partilha muitas características com as borboletas a começar pelo formato e desenho nas escamas de suas asas que são semelhantes aos da borboleta-pavão (Aglais io), espécie nativa da Europa e encontrada na maior parte da Ásia, incluindo Japão. Outro traço compartilhado com as borboletas são o formato de suas antenas finas que terminam em um formato circular, semelhante a uma bola ao contrário das mariposas que possuem antenas filiformes e com o formato de pena. Suas larvas também se assemelham a das borboletas do gênero Papilio e os bichos-da-seda (Bombix mori). O bater de asas da Mosura condiz mais com o voo suave de uma borboleta, principalmente quando plana e paira no ar. Voando como uma mariposa, seu corpo permaneceria quase estático enquanto suas asas agitariam vigorosamente. 

Como as demais mariposas, Mothra possui o corpo felpudo e robusto, abdômen avantajado  e  suas larvas tecerem casulos de seda na fase de pupa (borboletas só formam crisálidas).  Mothra também possuiria uma longa tromba (probóscide) enrolada no lugar das mandíbulas já que a maioria dos lepidópteros se alimentam de néctar, sendo importantes polinizadores. Isso é levado ao extremo na mariposa Xanthopan morganii praedicta, nativa de Madagascar, cuja  probóscide chega á 22 cm, quase quatro vezes o comprimento do corpo da mariposa. Se fosse aplicado á Mosura, com um corpo de 65 metros, sua “tromba” esticada alcançaria incríveis 260 metros. Imagina o tamanho da flor para atrair um inseto que além de ter uma probóscide gigantesca, possui uma envergadura de 175m (equivalente á 2 boeings 747-8 e meio) e o peso de 20 mil toneladas (equivalente ao peso aproximado de 68 boeings do mesmo modelo).




CICLO DE VIDA:




Mothra aparentemente não se reproduz do modo tradicional, pois não vemos um macho de sua espécie nos filmes (considerando a personagem dentro universo Godzilla). Contudo, na trilogia da própria personagem, o Rebirth of Mothra, o protagonista é um macho chamado o Mothra Leo. Mothra Leo apresenta cores diferentes da Mothra mãe e possui antenas em forma de plumas (típico de machos de mariposa, principalmente da família Saturniidae). Entretanto Leo, apesar de macho, era apenas mais um descendente de Mothra.

Uma proposta é que Mothra se reproduza por partenogênese, fenômeno onde indivíduos são gerados a partir de óvulos não fertilizados assim possibilitando as fêmeas procriar sem a necessidade de um macho. Este fenômeno é conhecido em abelhas, formigas e vespas e  também ocorre de forma rara nos lepidópteros. Algumas mariposas da família Psychidae, cujas fêmeas não possuem asas na forma adulta, se reproduzem desta forma. 

Assim, as descendentes de Mothra tenderiam a ser do mesmo sexo como vemos ao longo da franquia de Godzilla. O isolamento da espécie na Ilha Infant também poderia conduzir ao nanismo insular, fenômeno onde um grande organismo sofre redução corporal ao longo das gerações para se adaptar aos recursos limitados do ambiente.

Se considerarmos as Mothras como uma mesma espécie, a Mothra de 1961 possuía 250 metros de envergadura e um corpo de 80m sendo sua ancestral gigantes, as suas descendentes teriam proporções menores como a versão Heisei, de 1992, onde sua envergadura reduziu para 175m e  seu corpo  com 65m, chegando ao extremo na versão de 1996, com apenas 50m de envergadura e 25m de corpo  e cerca de 6 mil toneladas. Nanismo insular faria grande sentido  biológico para explicar essas variações ao longo da descendência da Mosura.





Mothra assim como todos os lepidópteros, têm desenvolvimento direto (holometabólico) em 4 estágios: ovo, larva, pupa e imago (adulto).

OVO: Nos filmes Mothra é mostrada como um ser divino e imortal, pois sempre que sua forma adulta morre em batalha deixa um ovo de onde nasce uma ou duas larvas indicando um ciclo de renascença, inspirado na mitologia da Fênix. No entanto, Mothra põe um único e enorme ovo tão grande quanto o próprio corpo (o ovo tem 100 metros de comprimento por 65 metros de diâmetro, imagina a dor sofrida  por ela ao botar algo absurdamente massivo) ao passo que lepidópteros são conhecidos por botarem dezenas e até centenas de ovos minúsculos. A mariposa-atlas (Attacus atlas), uma das maiores do mundo, põe de 15 á 20 ovos com 2,5 mm. Em escala á mariposa, Mothra depositaria ovos com 2 a 2,5 metros de diâmetro (do tamanho de um cavalo!). Se seguisse o padrão de postura  de mariposas da família Sphingidae, sua postura seria de 50 a 100 ovos. E se seguisse a da praga-da-maçã (Heliotis virescens) ela colocaria de 500 a 600 ovos, podendo chegar á 1000, criando um verdadeiro exército de larvas que não só devastariam toda a Ilha Infant numa busca desenfreada por comida como também destruiriam boa parte do Japão em caso de ataque.


LARVAS: As larvas de Mothra assim que saíssem do ovo passariam por diversas mudas e instares (etapa entre as mudas) até chegar ao estágio de pupa. Para chegar a um pouco mais de 120 metros de comprimento as larvas passariam por 4 instares, crescendo 30 metros á cada ínstar, caso eclodissem doĺ ovo medindo 2,5m e levariam semanas até atingir o último estágio de crescimento e inciar o estágio de pupa. Para crescer tão rápido assim teriam que devorar toneladas de plantas diariamente, causando uma enorme devastação em qualquer floresta que passassem. E por incrível que pareça há espécies de lepidópteros cujas larvas são enormes medindo 15 cm como as da mariposa-real (Chiteronia regalis), a mandruvá (Pseudosphinx tetrio), e muitas mariposas da família Sphingidae.



Na aparência, as larvas de Mothra também lembram as larvas de Bombix mori (as quais seu design foi inspirado) e as larvas das borboletas do gênero Papilio e poderiam ter o corpo coberto de cerdas e pêlos urticantes como as taturanas de Saturniidae, ideais para se defender de predadores maiores. A seda das larvas tem relação com o bicho-da-seda que possui glândulas na parte lateral e ventral do corpo e que se estendem até a boca, onde a larva expele a seda que tecerá seu casulo.


PUPA: 

Quando a Mothra larva atinge seu último estágio de crescimento prepara-se para a formação de pupa. Como visto nos filmes, a larva escolhe um ponto para se fixar e lá se cobre de um manto de seda para formar seu casulo e lá se enclausura formando a crisálida e inicia uma grande metamorfose, onde a larva tem seus tecidos reconstruídos e irá originar o imago. Nesse estágio, a pupa sobrevive apenas das reservas acumuladas durante o período larval. E diferente dos filmes, levaria vários dias até que Mothra eclodisse na forma adulta.


IMAGO: O estágio final de Mothra. Apesar de adulta e completamente formada, poderia permanecer adormecida dentro do casulo por um longo tempo, até que as condições sejam ideais para a sua eclosão (como defender a Terra de um ataque de kaiju por exemplo, hehe!) 

Após romper a crisálida e atravessar o casulo, o imago se move até um lugar no qual possa se apoiar, com a cabeça voltada para cima e o dorso para baixo. Mothra  então começa a direcionar seus fluidos corporais para o tórax, através da contração do abdômen e bombeando sangue para as asas, fazendo com que elas estiquem e tomem formato até conseguir ter condições de voo. Devido ao tamanho massivo, poderia levar horas. 

Embora tenha um par de mandíbulas, Mothra nunca é vista se alimentando na fase de imago e é provável que não o faça. Mais uma vez mencionamos a família Saturniidae aqui, pois os adultos têm aparelho bucal reduzido e não possuem sistemas digestivo o que as impede de se alimentar, sobrevivendo apenas das reservas acumuladas na fase de larval e pupal. A forma adulta dura poucos dias e é destinada apenas á reprodução. Com Mothra ocorreria o mesmo, gastando suas reservas na produção de ovos e quando não estivesse lutando com algum monstro estaria a descansar em sua ilha, onde é adorada como divindade, até seus últimos dias, como ocorreu no filme de 64.



DEFESA

O colorido das asas de Mothra poderia intimidar possíveis inimigos, já que as manchas de suas asas se assemelham á olhos. Uma outra estratégia adotada por ela é agitar as próprias asas, liberando suas escamas tóxicas causando desorientação e irritação caso atinja os olhos e mucosas. Este recurso é o último adotado por Mothra porque suas asas se desgastam no processo de descamação. Mais do que provocar desorientação no inimigo, as escamas poderiam ter toxinas alucinógenas que fariam o adversário ver Mothra como um mostro maior do que realmente é. Se humanos que fossem afetados indiretamente poderiam ter a alucinações sérias, como acreditar ver e interagir com as duas pequeninas fadas. Isso se a toxina não os matasse.


Mothra poderia também aderir ao mimetismo, se assemelhando a um ser mais ameaçador. No filme de 2001 ela se assemelha a uma vespa, assim como a mariposa Horama panthalon, que imita a aparência de vespas-caboclas (Poliestes). No mesmo filme Mothra dispara espigões de seu abdômen, ataque semelhante as mariposas do gênero Hylesia, cujas fêmeas ao se debaterem, liberam pêlos urticantes que ao entrar em contato com a pele causam ardência e reações alérgicas. Tal acidente tem o nome de lepidopterismo.

MOTHRA E A HUMANIDADE:

Caso o exército japonês quisesse lidar com Mothra, bastaria usar um enorme refletor de luz com centenas de metros ou concentrar refletores em prédios espelhados. A luz forte atrai instintivamente borboletas e mariposas noturnas, tanto que são até vítimas de mosquiteiros. Ou então o Japão teria de investir em um inseticida gigante hehehehe!

Mas Mothra sendo benevolente nos ajudaria bem mais do que oferecer  proteção ao planeta. Suas larvas e casulos renderiam toneladas de seda natural gerando milhões para a indústria todos os anos e, como um bom lepidóptero, a forma adulta traria uma enorme contribuição para o planeta como uma poderosa agente polinizadora (nossas plantas agradecem!).


Espero que tenham curtido e até a próxima meus amigos!


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